O título é de outra obra, mas é perfeito para o personagem em questão. "Ele é o queridinho de Antunes Filho" (ou algo parecido) – foi assim que eu o conheci. Fui atrás de mais informações a respeito daquele novo fenômeno da interpretação ali descrito na revista e tão elogiado em outros tantos veículos. Um tempo depois, consegui a desejada entrevista de Lee Thalor para o Zona Quente, embora nesse papel ele não se sentisse tão à vontade, e eu ainda não tivesse noção de sua intensidade no palco, e vida. A curiosidade sobre o tablado foi enfim saciada esta noite com ‘Foi Carmen’. E já bastou para eu admirar ainda mais a intérprete, o artista e seu mentor.
A fama do consagrado diretor teatral brasileiiro é de durão, rígido. Beirando os 80 anos, segue apaixonado por sua arte, e é desse sentimento que brotam seu método de improvisação e de oportunidade a novos talentos, suas exigências quanto à disciplina no trabalho dos atores e a todos os aspectos de suas montagens, e é justamente daí também que nascem desempenhos brilhantes e diferenciados de elencos imersos no universo de suas peças. Nesse contexto promissor, Lee reina absoluto como senhor daquela história e impressiona com seu gingado, olhar, poder, expressão, barangandã, borogodó.
Impossível não se apaixonar por aquele malandro bem-apessoado, um tanto carioca, de voz grave, fala mansa interidiomática, globalizada. Arrasou quando calçou em cena aquelas sandálias espalhafatosas a la Carmen Miranda (vide foto) - lembrei-me das drags que a imitam, dos fetiches crossdressers, da curiosidade infantil por sapatos infinitamente maiores que os pés de criança. Por sinal, difícil ignorar o passar do tempo contado pela menina que quer ser (como) ela. E a dança póstuma da bailarina oriental, tão ousada em movimentos sinuosos, é perfeita. Tudo instiga, singularmente.
Cada ícone, cada gesto, todos detalhes, por mais subjetivos que pareçam, são importantes para compor o complexo panorama do imaginário popular sobre o mito. A passista, o confete, os discos, o discurso incompreensível de Lee, as bananas, a citação dos anos, os souvenirs, as homenagens ao dançarino japonês Kazuo Ohno e à bailarina argentina Antonia Mercê y Luque - tudo conduz perfeitamente a narrativa quase calada, se não fosse pela trilha da cantora mais bem paga por Hollywood até hoje. Os poréns desse capítulo norte-americano em sua carreira por bem não tiveram destaque (e nem mereciam, pois por sua real intenção, para mim poderiam não ter sequer existido).
Antunes trabalha paradigmas nesse espetáculo. Ele mescla oriente e ocidente, passado e futuro, samba e butoh, silêncio e música, tradição e vanguarda. É uma bela comemoração de tantos centenários. E em meio a esse poema cult de antagonismos culturais, um tanto kitsch até, Lee mostra porque é tão bem amado, e nada efêmero. Quero mais dos três. E a voz ritmada de Carmen não me sai da cabeça: “Quando você se requebrar caia por cima de mim, caia por cima de mim, caia por cima de mim”. O que é que... tem? Obrigada Dedé pela boa cia sempre e desculpa Beto por ter sequestrado o gato. Amo vocês.
A fama do consagrado diretor teatral brasileiiro é de durão, rígido. Beirando os 80 anos, segue apaixonado por sua arte, e é desse sentimento que brotam seu método de improvisação e de oportunidade a novos talentos, suas exigências quanto à disciplina no trabalho dos atores e a todos os aspectos de suas montagens, e é justamente daí também que nascem desempenhos brilhantes e diferenciados de elencos imersos no universo de suas peças. Nesse contexto promissor, Lee reina absoluto como senhor daquela história e impressiona com seu gingado, olhar, poder, expressão, barangandã, borogodó.
Impossível não se apaixonar por aquele malandro bem-apessoado, um tanto carioca, de voz grave, fala mansa interidiomática, globalizada. Arrasou quando calçou em cena aquelas sandálias espalhafatosas a la Carmen Miranda (vide foto) - lembrei-me das drags que a imitam, dos fetiches crossdressers, da curiosidade infantil por sapatos infinitamente maiores que os pés de criança. Por sinal, difícil ignorar o passar do tempo contado pela menina que quer ser (como) ela. E a dança póstuma da bailarina oriental, tão ousada em movimentos sinuosos, é perfeita. Tudo instiga, singularmente.
Cada ícone, cada gesto, todos detalhes, por mais subjetivos que pareçam, são importantes para compor o complexo panorama do imaginário popular sobre o mito. A passista, o confete, os discos, o discurso incompreensível de Lee, as bananas, a citação dos anos, os souvenirs, as homenagens ao dançarino japonês Kazuo Ohno e à bailarina argentina Antonia Mercê y Luque - tudo conduz perfeitamente a narrativa quase calada, se não fosse pela trilha da cantora mais bem paga por Hollywood até hoje. Os poréns desse capítulo norte-americano em sua carreira por bem não tiveram destaque (e nem mereciam, pois por sua real intenção, para mim poderiam não ter sequer existido).
Antunes trabalha paradigmas nesse espetáculo. Ele mescla oriente e ocidente, passado e futuro, samba e butoh, silêncio e música, tradição e vanguarda. É uma bela comemoração de tantos centenários. E em meio a esse poema cult de antagonismos culturais, um tanto kitsch até, Lee mostra porque é tão bem amado, e nada efêmero. Quero mais dos três. E a voz ritmada de Carmen não me sai da cabeça: “Quando você se requebrar caia por cima de mim, caia por cima de mim, caia por cima de mim”. O que é que... tem? Obrigada Dedé pela boa cia sempre e desculpa Beto por ter sequestrado o gato. Amo vocês.
*A entrevista dele já foi ao ar no programa, mas o potencial do bom moço pode ser conferido às terças-feiras, 21h, no Teatro Anchieta do Sesc Consolação - Rua Doutor Vila Nova, n. 245 - Vila Buarque, em São Paulo. Foi Carmen fica em cartaz até 12 de agosto - a confirmar. E em breve ele reestréia a peça A Falecida, de Nelson Rodrigues, também sob a direção de Antunes Filho. Bravo!
No comments:
Post a Comment