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Monday, 17 August 2009

por trás de uma tradição


Gueixas são experts na arte da sedução. Elas se arrumam, maquiam-se, dançam, cantam, servem e adulam seus clientes. São caros e disputadíssimos seus serviços. Mas não se iludam, elas não são prostitutas, embora esse limite seja bastante tênue e de difícil compreensão na nossa cultura ocidental.

Uma coisa é fato: elas não trabalham diretamente com sexo. O governo do Japão lhes deu somente permissão para trabalharem como artistas. E como o proibido é muito mais atraente, é justamente isso que atrai diversos homens nessa milenar tradição japonesa. Existe toda uma preparação para uma mulher se tornar uma gueixa, e por isso essa condição é cercada de tanto status.

Lindas, anônimas e enigmáticas, são donas de um estilo de vida que inspirou livros e filmes, pois vivem num universo reservado, muito fechado. São um dos símbolos mais marcantes de seu país e já estiveram inclusive em melhor posição do que mulheres comuns, mas tiveram problemas na sociedade japonesa – isso antes do século 19. Não raro, meninas eram vendidas às casas de chá (hanamachi), para se tornarem maikos (aprendizes de gueixas).

Num mundo de romance, luxo e exclusividade, não muito diferente do que acontece aqui, ainda hoje, com as nossas profissionais do sexo, alguns homens ricos, chamados danna (patronos) pagavam muito dinheiro para ter a atenção pessoal de uma gueixa. Assim, elas não podiam se casar e dependiam financeiramente de seu danna para pagar suas despesas. E em alguns casos, outros homens pagavam muito dinheiro para tirar a virgindade das novas meninas (mizuaje).

A reputação dessas mulheres-artistas se elevou após a Segunda Guerra Mundial, quando leis importantes foram criadas, protegendo meninas de serem vendidas às casas de chá, ou terem suas virgindades leiloadas. Hoje, mulheres só se tornam gueixas por sua própria vontade. E essa realidade segue inacessível para a maioria dos mortais. É privilégio de poucos empresários ricos, políticos poderosos, renomados artistas e ou temidos yakuzas.

E levanto a mesma questão que fica no ar no filme de Spielberg (Memórias de uma Gueixa): pode uma gueixa amar? E as prostitutas? – com elas, é diferente? Seriam essas profissões um tanto ‘perpétuas’, que aprisionam as mulheres e as deixam fadadas ao mesmo destino? Ficam aí minhas dúvidas quanto a essas profissionais da sedução, que nunca podem discordar dos homens, falar de assuntos que os perturbem e vivem para agrada-los, e não a si mesmas.

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