Se eu já sou uma carioca? Quase isso. Ouvi esses dias que Ruy Castro escreveu em Carnaval no Fogo que somos todos cariocas, só que alguns nasceram longe de casa. E é por aí mesmo! Impossível não se apaixonar e adotar esta cidade maravilhosa, que te recebe tão bem, como lar. Mas trata-se de uma transição lenta, considerando que trouxe comigo uma bagagem de mais de duas décadas de uma cultura muito forte (tchê!), e da qual me orgulho.
Hoje, já são cinco anos e alguns meses de praia. Passou rápido. Uma das primeiras coisas que eu reparei ao me mudar para cá, é uma besteira, mas me marcou muito e me fez analisar todo um jeito de ser 'carioca': aqui as pessoas dizem que vão ligar e não ligam. Foi a primeira impressão que ficou. Hoje eu já absorvi esse comportamento e nem percebo mais quando isso acontece, e pode até ser que eu dê o 'perdido' vez que outra em alguém também, sem querer.
Mas o fato é que no começo me incomodava e eu não entendia o porquê dessa dificuldade em dizer a verdade, um não, ou somente não dizer nada numa despedida, por exemplo - apenas 'tchau'. Aos poucos aprendi que o "eu te ligo" daqui é como um "até". E para um típico carioca, dizer isso não significa em absoluto uma obrigação (ou vontade) de entrar em contato com o outro depois. No mínimo interessante, né?!
O que já entendo hoje é que o carioca é extremamente cordial e uso justamente esse adjetivo não por acaso, mas referindo-me ao texto de Sérgio Buarque de Hollanda, que versa sobre essa característica do povo brasileiro. O Rio foi a capital do Brasil até 20 de abril de 1960. Foram muitos anos como a cidade mais importante do país, cenário de acontecimentos históricos. Trata-se de tempos marcantes, que influenciaram inclusive o comportamento daqueles que aqui viviam e criaram o conhecido 'jeitinho' para driblar problemas, dificuldades, e manter a política da boa vizinhança para não se dar mal. E foi aí que acho que essa mania louca de informalidade, de "deixar no vácuo", nasceu.
Os gaúchos são os mais europeus dos brasileiros e, por isso, mais radicais, mais secos. Dizemos (e ouvimos) mais 'não'. De onde eu vim, se alguém diz que vai fazer alguma coisa é porque vai e quer fazê-lo (por mais que demore), se não, não diria nada. Por isso não consigo entender como alguém diz que vai ligar e simplesmente não liga. Não estou aqui entrando no mérito de julgar o que é certo e errado, quem é melhor, ou mesmo apontar defeitos. O objetivo é discursar sobre diferenças e qualidades que se destacam, que me atentam.
Um fator determinante para mim nessa nova vida é o calor. Aqui as pessoas se encontram na rua, na praia, não precisam marcar de se ver porque se encontram 'por aí'. Com o frio a tendência é de se entocar. Ninguém fica perambulando a quatro graus sem saber se vai ou não encontrar os amigos, por isso combinam, marcam de se ver e assim as pessoas acabam indo mais uma na casa das outras.
Outra curiosidade ligada a fatos históricos descritos por Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala é que no sul (como todos aqui chamam qualquer lugar de São Paulo para baixo) não se tem a cultura de algumas profissões que vemos com frequência no cotidiano carioca - babás, motoristas, porteiros, personal dogs, etc. Pode ser que a segmentação da 'porta de serviço' venha da grotesca diferença social existente, resquício do Império (mais ainda... de um período colonial desleal e desumano).
No Rio, é comum esse costume de se ter empregados, de querer se manter aparências e, portanto, se casar, além de se evitar dizer não para que portas não se fechem. Deixo claro que 'manter aparências' nada tem a ver com uma mania provinciana porto-alegrense típica de se julgar as pessoas pelo o que vestem, ou algo do gênero. Aqui no Rio se vai de calça jeans em casamento e se anda de ônibus em trajes de banho. As pessoas não se arrumam muito para nada simplesmente porque suam, porque uma torção de pé em pedrinhas portuguesas num salto altíssimo significa fratura exposta, porque aqui é tão cosmopolita, são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que o glamour acaba ganhando outro charme - o da naturalidade, sem deslumbres.
Quantas celebridades podem comparecer a uma festa, ser vistas no shopping, estar na praia, de noite no baixo, ser seu vizinho, amigo, colega de trabalho, amante, afim? Quando me mudei pude ver, sentir e viver na vida pessoal e, profissionalmente, como a terra de política, esporte, teatro, estúdios de rádio, cinema e televisão, valoriza as pessoas.
É um rio de possibilidades, não me canso de dizer orgulhosa. Sempre quando fico triste, com saudades, lembro logo que aqui as coisas acontecem facilmente, que a natureza está à nossa volta e o passado nas ruas de um 'Rio Antigo'. Sou muito sortuda mesmo, afinal "da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo!". Eu? Quero a vida sempre assim.
Hoje, já são cinco anos e alguns meses de praia. Passou rápido. Uma das primeiras coisas que eu reparei ao me mudar para cá, é uma besteira, mas me marcou muito e me fez analisar todo um jeito de ser 'carioca': aqui as pessoas dizem que vão ligar e não ligam. Foi a primeira impressão que ficou. Hoje eu já absorvi esse comportamento e nem percebo mais quando isso acontece, e pode até ser que eu dê o 'perdido' vez que outra em alguém também, sem querer.
Mas o fato é que no começo me incomodava e eu não entendia o porquê dessa dificuldade em dizer a verdade, um não, ou somente não dizer nada numa despedida, por exemplo - apenas 'tchau'. Aos poucos aprendi que o "eu te ligo" daqui é como um "até". E para um típico carioca, dizer isso não significa em absoluto uma obrigação (ou vontade) de entrar em contato com o outro depois. No mínimo interessante, né?!
O que já entendo hoje é que o carioca é extremamente cordial e uso justamente esse adjetivo não por acaso, mas referindo-me ao texto de Sérgio Buarque de Hollanda, que versa sobre essa característica do povo brasileiro. O Rio foi a capital do Brasil até 20 de abril de 1960. Foram muitos anos como a cidade mais importante do país, cenário de acontecimentos históricos. Trata-se de tempos marcantes, que influenciaram inclusive o comportamento daqueles que aqui viviam e criaram o conhecido 'jeitinho' para driblar problemas, dificuldades, e manter a política da boa vizinhança para não se dar mal. E foi aí que acho que essa mania louca de informalidade, de "deixar no vácuo", nasceu.
Os gaúchos são os mais europeus dos brasileiros e, por isso, mais radicais, mais secos. Dizemos (e ouvimos) mais 'não'. De onde eu vim, se alguém diz que vai fazer alguma coisa é porque vai e quer fazê-lo (por mais que demore), se não, não diria nada. Por isso não consigo entender como alguém diz que vai ligar e simplesmente não liga. Não estou aqui entrando no mérito de julgar o que é certo e errado, quem é melhor, ou mesmo apontar defeitos. O objetivo é discursar sobre diferenças e qualidades que se destacam, que me atentam.
Um fator determinante para mim nessa nova vida é o calor. Aqui as pessoas se encontram na rua, na praia, não precisam marcar de se ver porque se encontram 'por aí'. Com o frio a tendência é de se entocar. Ninguém fica perambulando a quatro graus sem saber se vai ou não encontrar os amigos, por isso combinam, marcam de se ver e assim as pessoas acabam indo mais uma na casa das outras.
Outra curiosidade ligada a fatos históricos descritos por Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala é que no sul (como todos aqui chamam qualquer lugar de São Paulo para baixo) não se tem a cultura de algumas profissões que vemos com frequência no cotidiano carioca - babás, motoristas, porteiros, personal dogs, etc. Pode ser que a segmentação da 'porta de serviço' venha da grotesca diferença social existente, resquício do Império (mais ainda... de um período colonial desleal e desumano).
No Rio, é comum esse costume de se ter empregados, de querer se manter aparências e, portanto, se casar, além de se evitar dizer não para que portas não se fechem. Deixo claro que 'manter aparências' nada tem a ver com uma mania provinciana porto-alegrense típica de se julgar as pessoas pelo o que vestem, ou algo do gênero. Aqui no Rio se vai de calça jeans em casamento e se anda de ônibus em trajes de banho. As pessoas não se arrumam muito para nada simplesmente porque suam, porque uma torção de pé em pedrinhas portuguesas num salto altíssimo significa fratura exposta, porque aqui é tão cosmopolita, são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, que o glamour acaba ganhando outro charme - o da naturalidade, sem deslumbres.
Quantas celebridades podem comparecer a uma festa, ser vistas no shopping, estar na praia, de noite no baixo, ser seu vizinho, amigo, colega de trabalho, amante, afim? Quando me mudei pude ver, sentir e viver na vida pessoal e, profissionalmente, como a terra de política, esporte, teatro, estúdios de rádio, cinema e televisão, valoriza as pessoas.
É um rio de possibilidades, não me canso de dizer orgulhosa. Sempre quando fico triste, com saudades, lembro logo que aqui as coisas acontecem facilmente, que a natureza está à nossa volta e o passado nas ruas de um 'Rio Antigo'. Sou muito sortuda mesmo, afinal "da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo!". Eu? Quero a vida sempre assim.
Eu tb quero a vida sempre assim! E o que eu mais gosto é desta falta de glamour nas vestimentas, até porque sobra glamour nesta natureza daqui!
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