Embora Maneco (como é conhecido informalmente o autor Manoel Carlos, pai de tantas Helenas) diga que se inspira no cotidiano para escrever seus personagens, a distância entre eles a realidade não aproxima o público da trama de Viver a Vida, sua atual novela. Uma protagonista negra, vivida pela bela Taís Araújo, a primeira em horário nobre, casou-se com o galã Zé Mayer, o milionário Marcos, e passa a ostentar uma vida de status, glamour, fama e futilidade.
A prova disso foi a compra de uma égua campeã para sua amada. À beira da falência, o coroa não poupou esforços para atender aos caprichos da modelo internacional e a presenteou com um equino precioso. Detalhe: ela nem ao menos monta! Isso me incomoda um tanto. Não vejo verossimilhança nisso - não nos protagonistas, ao menos, que vivem uma história de conto de fadas... No segundo calão, sim,! Esses vivem mais próximos do que vemos nas ruas e temos como uma sociedade 'normal' – sejam negros, ou não.
O folhetim não mostra uma família negra humilde, embora tenha problemas de outra natureza - como qualquer outro núcleo familiar comum. Ok, sem problemas, porque assim como os Toledo, milhares de tantos outros negros vivem numa condição boa de vida, trabalhando, conquistando seu espaço ainda mais numa sociedade tão discriminatória e de poucas oportunidades para quem não vem de berço, para quem tem que enfrentar mais dificuldades que os outros porque sua cor é diferente, mais escura. Nesse núcleo mesclam-se viagens de helicóptero a visitas à favela.
Quanto à Helena ser negra, vejo isso com a maior naturalidade. Afinal, num país de maioria negra ou mestiça, demorou-se MUITO, inclusive, para ver uma perfeita exemplar de nossa sociedade neste papel – talvez o mais sonhado na carreira de qualquer atriz. Fora a pele, a idade é outro diferencial que Taís vem experimentando. A atual tem apenas 30 anos, diferente das outras interpretadas por Lilian Lemmertz, Maitê Proença, Vera Fischer, Christiane Torloni e Regina Duarte, que eram mais maduras.
O que eu gostei foi da iniciativa de se manter os relatos de ‘gente como a gente’, falando de suas superações. Acho esse um forte e importante apelo social, um veículo que dá certo ao passo que atinge a população pelo sentimento, pela realidade e verdade acessíveis, próximas. Acredito bem mais no encerramento da novela, do que nos passeios de conversível ou iate em Búzios. Nota dez também para a naturalidade sensual de Giovanna Antonelli. A ‘outra’, nesse caso, é mais palpável que o inalcançável diamante negro.
Necessidade dos tempos, ou uma atenção ao politicamente correto, o fato é que essa seja a primeira de muitas outras protagonistas negras. E agora, tão cedo, já se tem, simultaneamente, outra protagonista negra – Camila Pitanga (tão linda como), em Cama de Gato que estreou agora, esta semana. A última, mais do povo, menos caricata high society, menos Leblon, mais pé no chão. Que elas cumpram seus papéis, com ou sem cotas, faxineiras ou cocotas...
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