O que acontece?
Gaúcha como sou, antes e acima de ser brasileira (justificável historicamente e compreensível por aqueles tantos povos que foram obrigados a permanecer ligados a uma república ilegítima, da qual foram obrigados a fazer parte por questões políticas e de interesse central e não por afinidades, culturalmente), entendo a fábula do 'Balde de Siri' que assombra os gaúchos em sua realidade, "impedindo-os" de deixar o pago, a querência amada.
Compreendo a esranheza e a zoação do resto do país, uma vez que a eles falta esse sentimento, laços maiores que em outro lugar qualquer, assim como respeito a decisão afetiva dos nossos. Não concordo totalmente, entretanto, pois meus horizontes vão além sul - tanto, que desgarrei. Fui conquistar outros terrenos, meu espaço, pé na estrada, de coração aberto. E me apaixonei pelo Rio.
Demorei para me acostumar com o novo jeito de ser informal. Não foi de uma hora para outra para me sentir de fato "em casa". Sentia saudade. E, por anos lamentei o fato de artistas e bandas como a Ultramen, por exemplo, não virem para cá e serem sucesso nacional. Talento tem para tanto, o que falta é coragem de ultrapassar fronteiras, cortar o corsdão umbilical e enfrentar a ponte-aérea Rio-São Paulo. Exterior então, fora Argentina e Uruguai, é outro planeta!
Nei Lisboa sempre me pareceu um caso de auto-omissão, de preferência pelo anonimato brazuca, opção pelo reconhecimento local. Enquanto isso, seus súditos despatriados aguardavam ansiosos uma visita musical sua (vide Vitor Ramil), o aconchego saudosista de ouvir sua voz doce em lindas canções que falam nossa língua, sobre a terrinha, de um tempo que vivemos por lá - "Berlim, Bomfim", ou aqueles "Verdes Anos" e por aí vai... Outra época, que não volta mais (e também outras belas letras que nos lembram o amor).
Não é uma questão de dar as costas para o que importa, de esquecer o passado, as raízes, patriotismo, bairrismo, de perder o orgulho de ser gaúcho (ou seja como for... tchê), e sim de AGREGAR. Só é este um comportamento próprio nosso, questionável e criticável, mas defendido por muitos que optaram por lá ficarem para sempre, puxando uns aos outros para dentro do balde novamente, sem deixar nenhum siri escapar. Vai que, saindo, dá certo...
Pra mim deu. Ganhei o mundo e não perdi a essência.
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Fã assumida, cantei ontem, entusiasmada, todas as músicas no seu primeiro show em turnê no Rio de Janeiro. Foi no Rival, num climinha bem dentro de sua proposta intimista de ser. Em 2005, fui ao festival Brasil dos Gaúchos só para assisti-lo. Boa apresentação, mas não completa como esta foi... Opa! NEM tanto: ele não cantou nenhuma do Hi-Fi. Mas ok, ganhei um CD autografado e rimos lembrando da lancheria - tomar vinho e ver a bunda das pessoas a passar. Tá valendo (sempre!).
E para encerrar, uma meia "Confissão":
...
E eu vejo a vida vindo ao meu encontro
E vejo agora o que amanhã chegar
Eu tenho os olhos sobre o teu encanto
E tudo a desvendar
Os quatro cantos desse mundo
Eu tenho a febre feita de alcançar
E tenho a força bruta das palavras
Ditas para amar
...
E eu tenho o sol guiando meu caminho
E tenho as senhas pra te conquistar
Eu tenho o norte sob o fio da espada
E cada dia a me esperar
Nos quatro cantos desse mundo
E tantos quantos tenha de alcançar
Eu tenho a sorte de viver cantando
E o céu a me ajudar
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