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Tuesday 6 October 2009

a dor da ausência


Abordei ontem no texto abaixo alguns resquícios dos duros anos de ditadura. O regime adotou uma repressão que implicava sequestro, cárcere privado, tortura, assassinato, esquartajamento do corpo das vítimas e ocultação (das partes) dos cadáveres. E isso aconteceu com centenas de pessoas aqui no país, e em tantos outros. Poucos foram os crimes conhecidos, como o do jornalista Vladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho, nas dependências do Doi-Codi, em São Paulo – na época dito como suicídio, embora isso tenha implicado a demissão do então comandante do 2º Exército.

Uma triste consequência que ainda assombra diversas famílias aqui no Brasil, e em outros países sul-americanos, é o desaparecimento de presos políticos da época. Imagine você que o ano no final dos anos 70 e início dos 70, seu filho que milita contra-ditadura, então com 20 e poucos anos, simplesmente desaparece, no Rio, São Paulo, Porto Alegre ou no Araguaia... aqui no Brasil, ou além fronteiras. Sabe-se que foi pego pelo sistema e levado para... sabe-se-lá-onde. O que se faz? Espera... (mas não calado).

A campanha Memórias Reveladas, lançada recentemente, pede para quem tenha informações sobre essas pessoas que, durante os anos de chumbo, sumiram, foram caçadas pelo ‘governo’ que estava no poder, por SEUS homens. Estima-se que cerca de 140 pessoas ainda continuam nessa situação. Essas, foram pessoas que, no período de 1964 a 1985, lutaram por um país democrático. Para realizar este trabalho de maneira autoral, foram chamados diretores de cinema que entendem do assunto: Helvécio Ratton (Batismo de Sangue), João Batista de Andrade (Vlado - 30 Anos Depois e Travessia) e Cao Hamburguer (O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias).

Nos filmes veiculados em rede nacional, vemos os depoimentos de familiares de desaparecidos políticos. O escritor Marcelo Rubens Paiva fala de seu pai, o deputado federal Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Elzita Santa Cruz Oliveira, mãe de Fernando Santa Cruz, desaparecido em 1974, declama um poema descrevendo a ausência do filho. E Diva Santana pede informações sobre a irmã de Dinaelza Santana Coqueiro e o cunhado Vandick Reidiner Pereira Coqueiro, desaparecidos em 1974. Essas são histórias como a de diversas outras famílias que, com a campanha, pretende-se amenizar seu sofrimento, a angústia dessa espera longa.

Acessando http://www.memoriasreveladas.gov.br/, interessados podem colaborar. Lá, há orientações sobre os procedimentos para efetivar o registro de informações ou a doação de documentos, além de documentos e fotos já catalogados, abertos ao público. Quem preferir, pode ligar também. Uma equipe de sete pessoas foi contratada para atender as chamadas no telefone 0800 701 2441. Para os curiosos que desejam apenas se inteirar mais sobre nossa história vão encontrar textos sobre censura aos meios de comunicação, manifestações artísticas e repressão ao movimento estudantil e operário. Cartazes também estão espalhados pelo Brasil, divulgando o movimento. Essa é uma iniciativa promovida pelo Arquivo Nacional e a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República.

Mas, não só foi aqui que isso aconteceu. Infelizmente outras ditaduras como a Argentina, antes citada, passam pela mesma situação nossa. E a foto que ilustra esse post contempla isso. Um bom filme sobre essa fase negra é A História Oficial, vencedor do Oscar de 1980 de Melhor Filme Estrangeiro (ainda no período da ditadura). Qualquer um tem o direito de enterrar seu pai, filho, irmão, marido... mesmo que isso se dê mais de 30 anos depois. Não se pode medir a dor dessa ausência.

E encerro com Chico que melhor define esse vazio, em 'Pedaço de Mim':

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

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