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Wednesday 26 May 2010

a revolta da vacina


Ontem a Fundação Oswaldo Cruz completou 110 anos. E, quando ouço o nome desse médico sanitarista NÃO consigo deixar de lembrar e desassociá-lo de um interessante “causo” da nossa História, a Revolta da Vacina - uma das mais terríveis rebeliões populares da República.

O fato sempre me chamou a atenção em razão da ignorância do povo aliada a medidas autoritárias que, apesar de sua inquestionável necessidade, desrespeitavam os direitos individuais. Os métodos utilizados para atingir a população e ter então eficácia, na época, chegaram até a serem apelidados pela imprensa como “Código de Torturas”.

Pode parecer horrível a atitude radical do governo de Rodrigues Alves, e do chefe da Diretoria de Saúde Pública e diretor do Instituto Soroterápico Nacional, em Manguinhos (atual conceituada Fundação com seu nome - Fiocruz), mas antes de uma avaliação prematura, alguns pontos fundamentais devem ser considerados: o Rio de Janeiro, em 1904, era infestado de epidemias. Pestilenta, estava longe de ser considerada ‘maravilhosa’ – como hoje (e há tempos) a cidade é conhecida.

Peste bubônica, febre amarela, difteria, sarampo, tuberculose, escarlatina, coqueluche, lepra, tifo, e, principalmente, a varíola... (parece mais a letra da música O Pulso de Arnaldo Antunes, mas não!) essas eram as doenças que matavam muita gente no início do século XX por aqui. Grande parte dos habitantes morava em cortiços superlotados, em situações sanitárias precárias, sem saneamento básico e higiene.

A então capital do país, apesar de seus belos palacetes e casarões, tinha graves problemas urbanos como rede insuficiente de água e esgoto, e escassa coleta de resíduos e lixo. Desse ambiente putrefato resultavam as enfermidades vividas pela população, que dividia o espaço com uma infinidade de ratos e mosquitos, entre outras moléstias, responsáveis pelo óbito de diversos estrangeiros, além dos locais.

Em 1902, as mortes causadas por febre amarela chegavam a mil, e baixaram para 48 dois anos depois. No primeiro semestre de 1904, as chamadas ‘Brigadas Mata-Mosquitos’, que invadiam as casas para detetiza-las, fizeram mais de cem mil visitas domiciliares e mais de 600 edifícios e casas foram interditados. Já em 1909, não era mais registradas vítimas da doença na cidade. Apesar do sucesso e da boa intenção da ação, teve um momento em que Oswaldo Cruz foi apontado como ‘inimigo do povo’.

Mesmo sob insatisfação popular, ele bancou a campanha contra a varíola com a mesma firmeza. E, no dia 31 de outubro, foi aprovada a Lei da Vacina Obrigatória para a popular “bexiga”, como também era chamada. Assim, as brigadas sanitárias puderam, acompanhadas por policiais, entrar nas casas para aplicar a vacina, mesmo que à força. Esse comportamento, entretanto, gerou conflitos.
 

Depois de Alves ter dado plenos poderes ao prefeito Pereira Passos e ao doutor para executarem um grande projeto sanitário, foi posto em prática uma ampla reforma urbana conhecida como ‘bota-abaixo’ (pelas demolições dos prédios velhos, que deram lugar a grandes avenidas, edifícios e jardins). Com essas ações, houve um enorme descontentamento, pois milhares de pessoas foram desalojadas, sendo obrigadas a morar nos morros e na periferia.

A questão da revolta foi política – nenhuma novidade, portanto, pois pessoas desinformadas e sem um incentivo externo maior não seriam capazes de tamanha barbárie. Só para ilustrar o substantivo, foi declarado estado de sítio no dia 16 de novembro daquele ano. A vacinação foi suspensa, e o exército foi para as ruas. O Rio virou um campo de guerra, com barricadas em diversos pontos. Bondes e postes foram depredados; trilhos e calçamentos, arrancados.
 

Estimulados pela demagogia da Liga Contra a Vacina Obrigatória, e pela oposição positivista (que sequer acreditava que as doenças fossem provocadas por micróbios!), informações sobre supostos perigos causados pela vacina foram espalhados. Além disso, o boato de que as mulheres teriam que se despir na frente dos vacinadores porque a vacina teria de ser aplicada em partes íntimas do corpo, agravou a ira da população, que se rebelou.

O motim e a tentativa de golpe tiveram seu fim no dia 20 de novembro com mais de mil pessoas detidas e 400 deportadas para o Acre. Naquele ano, morreram cerca de 3.500 pela doença infecto-contagiosa. Em 1906, esse número caiu para nove. Dois anos depois, uma nova epidemia matou mais de 6.500, e, em 1910, foi registrada somente uma única vítima.

Hoje, felizmente, a varíola está extinta no mundo todo. E, mesmo com a revogação da obrigatoriedade de sua vacina, permanece válida a exigência do atestado de vacinação para trabalho, viagem, casamento, alistamento militar, matrícula em escolas públicas, hospedagem em hotéis.

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Nos dias atuais, o que se viu (eu, pelo menos, aqui no Rio de Janeiro), numa campanha não obrigatória, foi um considerável número de cidadãos se rejeitando a tomar a vacina contra o vírus da Influenza A (H1N1). Os motivos, na maioria das vezes, eram suposições sobre seus malefícios. Não consegui, obviamente, deixar de relacionar esse comportamento ao passado.

Sinceramente, não gostei de tomar a vacina, pois fiquei enjoada, indisposta e com dores fortes no braço por cerca de dois dias, mas li a respeito e vi que eram normais os sintomas e que alguns mitos criados são como os fantasmas já exorcizados. Fiquei tranqüilizada, e penso que agora estou (pelo menos MAIS) segura contra a tão famosa, na moda e temida gripe suína.

Acho válida qualquer forma de preocupação e questionamento sobre assuntos como esse, questões de saúde pública – ainda mais envolvendo possíveis conspirações da indústria farmacêutica (vide a história de O Jardineiro Fiel), mas acredito na seriedade de nossos órgãos competentes. Assim já provaram ser desde sempre. E, ainda alia-se a essa credibilidade o modelo que representamos atualmente quanto ao coquetel para soropositivos.

Chega de rebeldia sem causa. Ou a culpa, agora, é do PT (ou do Lula)? Golpe baixo.

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