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Thursday 10 September 2009

coisa de novela


Novela das oito quase acabando e, agora, mais do que nunca vem à tona questionamentos acerca de sua finalidade como veículo de comunicação (sim, à medida que a maior parte dos brasileiros preferem o folhetim a noticiosos, por exemplo) e de entretenimento na formação social brasileira. É bem verdade que tal preocupação assombra de repente só a mim, mas aproveito para fazer disso uma discussão aberta aqui, um rugido da mula.

Há tempos a temática indiana me interessa, me instiga. Muito antes de Glória Perez rascunhar qualquer coisa sobre a trama de Maya, já conhecia outra protagonista, homonima, que trazia nela toda a tradição e cultura indiana relacionada ao sexo. Ironicamente, dizem sua intérprete, Indira Varma, em muito se parece comigo... Também achei ao vê-la na tela, envolvida pelos ensinamentos dos amantes. E a homenagiei em meu convite de formatura ao escolhê-la como minha personagem nas latinhas de filme que fizemos para chamar o povo para a cerimônia.

Ao acompanhar a história brasileira de um triângulo amoroso, que assim pouco se desenrolou, algumas questões do que ali era representado aos milhões de espectadores que assistem fielmente a novelas, tocaram-me. Inevitavelmente a mais forte delas foi a do (ainda) existente sistema de castas indiano. Essa discriminação social hindu divide as pessoas segundo sua posição na sociedade. É hereditária, endógama, perpétua e cruel, vedando os cidadãos indianos a uma ascenção e crescimento, a mudanças em suas vidas e destinos.

Por não vivermos tal realidade em nossa sociedade ocidental, cristã e capitalista (igualmente cruel em outros aspectos que também impossibilitam melhorias na situação social em que milhares de pessoas de encontram), temos que relativizar esses conceitos. Há, porém, injustiças passíveis de intervenção uma vez que são incoerentes e desumanas. Vendo pelo lado dos dalits (intocáveis), situados abaixo de tudo e todos na escala social indiana, essa estrutura mais parece uma escravidão a uma situação imposta.

A casta determina toda a vida de uma pessoa, desde o momento do seu nascimento até a morte - sua moradia, profissão, casamento e outros mais aspectos da vida são determinados pela casta a que pertence. É irredutível, pois se acredita que a natureza de cada pessoa é determinada pelos deuses. É como um carma, e por os hindus acreditarem em reencarnação, a única chance de mudança seria vindo em outra vida numa situação espiritual mais elevada e evoluída.

Este sistema antigo e rígido de hierarquização da sociedade indiana surgiu baseado em preceitos religiosos do vedismo. Religiosamente, deve-se a Brahma, divindade criadora do universo, essa divisão baseada em castas, mas o fato é que se desconhece sua origem histórica. As primeiras referências históricas se encontram em um livro sagrado hindu, o Manu, que data de 600-250a.C.. A divisão clássica se dá em: brâmanes (sacerdotes, vindos da boca de Brahma); kshatriyas (guerreiros, vindos dos braços de Brahma); Vaishyas (comerciantes, vindos das coxas de Brahma) e os sudras (agricultores, vindos dos pés de Brahma). À margem disso estão os dalits, que vem da poeira abaixo do Deus.

Embora o sistema de castas tenha sido abolido oficialmente da Índia na Constituição de 1950, por razões culturais e religiosas ela ainda faz parte da vida dos indianos, fazendo-se socialmente importante para mais de 80% da população. E nesse sentido a autora conseguiu transparecer claramente tal contexto. Da mesma forma explorou de forma exagerada os casamentos arranjados, sem amor, e de maneira genial a disputa (e assim, desunião) feminina. Noras brigando pela chave do armário da dispensa é um dos últimos conflitos que moças contemporâneas como nós viveríamos em nossas vidas.

Num universo tradicional machista, familiar, fica claro que a posição da mulher é difícil, mas não é por isso que elas devam crucificar a si mesmas e às suas póximas porque assim aconteceu com elas. O pagamento do dote vejo como algo absurdo, do tipo "pago para que leve e sustente agora assim você essa inútil". A falta de individualidade então, bem trabalhada em Caminho das Índias, nitidamente é tida como um fator incômodo a nós, ocidentais, e vista como principal motivo de discórdia no núcleo daquelas famílias. A visão do que é diferente de sua cultura como errado é algo que só mostra o quanto ainda se mantem fechados à realidade mundial atual. Nós, firanghis, fomos crucificados pelos indianos do início ao fim.

Um galã preconceituso que caiu no gosto popular (feminino - ai, ai...), um casal de protagonistas que foi taxado como sem 'química' em cena (mas que dizem ter se encaixado na vida real - pelo menos durante as gravações no estrangeiro, in loco, literalmente), uma atriz que por sua beleza exótica ganhou aquele grande papel que a marcará para sempre (bem maquiada, vestida... linda), um vocabulário novo que tomou as ruas do Brasil e tá na boca do povo... São muitas as marcas que essa onda indiana deixou por aqui. Só acho que faltou duas coisas: citação sobre Gandhi e sobre o kamasutra - política e sexo, o que mais dá pano pra manga.

Mas é coisa de novela isso... É exigir demais, complexo demais, complicado demais para os indianos globais em questão. 'Tik tik'.

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